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Dodeskaden - Akira Kurosawa/Ciclo Japão Eterno

cinema

Dodeskaden
Akira Kurosawa

€5 — €3,5 descontos TAGV

O filme consiste em diversos episódios da vida dos habitantes de um pequeno bairro de lata: bebedeiras, sonhos, depressões, casos de adultério, a luta pela vida de todos os dias. Um rapaz conduz um elétrico imaginário, um outro, que procura comida nos caixotes de lixo dos restaurantes, sonha em encontrar o pai, uma rapariga faz flores artificiais para sustentar o avô alcoólico. O “chefe” informal do grupo é o velho Tamba, um velho artesão, capaz de tudo perceber e de tudo perdoar.

Começa aqui um período mais difícil para o cineasta, um período de incompreensão, que leva a que o seu filme Dodeskaden (1970, inédito comercialmente em sala em Portugal), o último que veremos neste ciclo essencial, só se concretize cinco anos depois. Como resposta a um período depressivo, Kurosawa rodou este filme admirável em quatro semanas, com baixo orçamento (“fiz o filme para provar que não tinha enlouquecido”). Dodeskaden, contruído sobre narrativas irónicas, entrelinhas, ilusões, como sublinhou o escritor Pedro Eiras, inspira-se em Gorki e num romance do japonês Yamamoto, e é nele que Kurosava utiliza pela primeira vez a cor, com o olhar do pintor Rokuchan (recorde-se que, na sua infância, fora um professor de desenho que despertara o interesse do jovem Akira pela escola; de resto, o desenho e a pintura foram actividades que sempre continuou a praticar).O realizador afirmou: “Rokuchan simboliza o artista, o cineasta, que cria única e exclusivamente por meio da sua imaginação, neste caso o caminho de ferro imaginário, isto é, o cinema”. É um filme de resistência, um filme de sobrevivência, das personagens que o habitam e de um realizador, de um homem com uma sabedoria desconcertante, simultaneamente tão humana e sobre-humana. Pouco tempo depois da sua estreia Kurosawa teve uma tentativa de suicídio, felizmente malograda.

Akira Kurosawa, que percorreu quase um século de cinema, morreu em 1998, em Tóquio, a cidade onde nascera. Aclamado pela crítica e amado pelos seus pares (Samuel Fuller, Scorsese, Coppola, Spielberg, Lucas), não só abriu as portas do Ocidente ao cinema japonês, como foi o mais internacional dos seus cineastas, tendo vários dos seus filmes sido objeto de remakes: John Sturges realizou The Magnificent Seven (1960), remake de Os Sete Samurais,Rashomon foi transposto como western por Martin Ritt (The Outrage, 1964), Yojimbo por Sergio Leone (Por um Punhado de Dólares, 1964)... Em 1985, Chris Marker dedicou-lhe o filme A.K. — Leopardo Filmes

Com Zuchi Yoshitaka, Kin Sugai, Junzaburo Ban, Kiyoko Tange
Origem Japão, 1970
Festival Internacional de Veneza 1971 Prémio OCIC
Óscares 1971 Nomeado na Categoria de Melhor Filme Estrangeiro
Cópia digital restaurada
Inédito comercialmente em Portugal
Ciclo Japão Eterno

auditório TAGV
duração aprox. 2h15
M14