Repúblicas Ay-Ó-Linda e Boa-Bay-Ela reconhecidas como entidades de interesse histórico e cultural ou social local
O executivo da Câmara Municipal (CM) de Coimbra vai analisar e votar, na sua reunião de segunda-feira, o reconhecimento das associações Real República Ay-Ó-Linda e Real República Boa-Bay-Ela como entidades de interesse histórico e cultural ou social local. O executivo municipal já tinha aprovado as intenções de candidatura das duas associações, nas suas reuniões de 10 de fevereiro e 09 de março, respetivamente, tendo essas decisões sido submetidas a um período de consulta pública de 20 dias. Esse período terminou sem que desse entrada na CM Coimbra qualquer sugestão ou participação pública sobre os processos e, como tal, a proposta passa, agora, pela concretização desses reconhecimentos por parte do executivo municipal.
A Associação Real República Ay-Ó-Linda nasceu em 1951, apesar de já existir, com o nome República Mija-Gato, desde 1949. Foi a geração conhecida por “Os Fundadores” que foi responsável pela sua instalação no local onde permanece nos dias de hoje, em frente aos Arcos do Jardim, no número 33. Os interessados apresentaram vários documentos que comprovaram a existência da República Ay-Ó-Linda há mais de 25 anos, pelo que foi validado o parâmetro da longevidade.
A importância da Real República Ay-Ó-Linda para a histórica local também foi devidamente comprovada. Esta república integra um conjunto de residências de natureza académica destinada ao alojamento da comunidade estudantil, reconhecida pela Reitoria da Universidade de Coimbra, em 1982, e é prática a sua inclusão em artigos relacionados com a academia. A sua existência possibilitou, e possibilita, que muitos estudantes economicamente carenciados consigam permanecer na cidade e concluir os seus estudos. A Real República Ay-Ó-Linda foi ainda reconhecida como associação juvenil, pelo Instituto da Juventude de Coimbra, em 1989.
Sabe-se também que a Real República Ay-Ó-Linda participou ativamente no movimento estudantil de resistência à ditadura, sendo que alguns membros chegaram a ser coagidos, castigados e obrigados a interromper os estudos para prestar serviço militar. Muitas das individualidades que passaram pela república integraram, na época, cargos dirigentes de instituições como a Associação Académica de Coimbra. A Real República Ay-Ó-Linda foi, ainda, alvo de um documentário televisivo, integrou as filmagens do filme “Rasganço” e foi referenciada, por meio fotográfico, num livro sobre Repúblicas de Estudantes.
A Real República Ay-Ó-Linda mantém a sua função histórica, cultural e social, realizando anualmente as comemorações dos seus aniversários – denominados de ‘centenários’ pelo facto de um ano numa república equivaler a cem anos mundanos – com programas que englobam, entre outras atividades, jantares convívio e a realização de congressos. Organizam ainda, a cada dez anos, os ‘milenários’, celebrações que englobam diversas atividades de cariz cultural e desportivo.
Já a Associação Real República Boa-Bay-Ela fui fundada em 26 de janeiro de 1956 e grande parte da sua história está documentada no livro comemorativo do seu 50º aniversário, elaborado por ilustres gerações de residentes que, com a colaboração de algumas pessoas “amigas da casa”, reuniram um precioso conjunto de testemunhos de antigos residentes da república, desde a data da sua fundação até à primeira década do séc. XXI. O documento é um testemunho da história da república e também da história da Academia de Coimbra e da sua relação com o Estado Novo, que demonstra que a atividade da Real República Boa-Bay-Ela teve um forte significado para a história local, contribuindo para o enriquecimento do tecido social e cultural da cidade de Coimbra. A presença dos cantautores José Afonso e Adriano Correia de Oliveira na Real República Boa-Bay-Ela era uma constante, tendo a casa inclusive servido de abrigo a José Afonso, quando este se refugiava da PIDE.
A Real República Boa-Bay-Ela sempre recebeu inúmeras visitas e cerimónias, personalidades de referência nacional e internacional, com destaque também para as equipas desportivas, de várias modalidades, que lá eram recebidas quando vinham jogar contra a Académica de Coimbra. A república é ainda possuidora de património artístico e de um importante acervo, que validam a sua importância como referência para a comunidade local, cumprindo todos os requisitos essenciais para ser reconhecida como entidade de interesse histórico, cultural e social local.
Com a conclusão destes dois processos, já foram reconhecidas 14 repúblicas de estudantes e uma “Loja com História” e estão em análise técnica ou a aguardar a entrega de documentos outras três repúblicas, bem como quatro lojas históricas.
Recorde-se que a CM Coimbra aprovou, na reunião do executivo municipal do dia 5 de março de 2018, uma ficha de candidatura para a instrução de processos de reconhecimento e proteção de estabelecimentos e entidades de interesse histórico e cultural ou social local, de forma a auxiliar os estabelecimentos ou entidades que pretendessem ver efetivado esse reconhecimento. O objetivo passa, pois, por simplificar o procedimento, para que os estabelecimentos que se enquadrem nas categorias previstas na lei, entre eles as repúblicas de estudantes de Coimbra e as lojas com história, possam desencadear, com maior celeridade e simplicidade, o seu processo de pedido de reconhecimento como entidade de interesse histórico e cultural ou social local.