Fique a conhecer melhor a louça "ratinha" - a verdadeira louça de Coimbra
Fomos falar com Carlos Tomás, um artesão que reclama para si o título de último pintor de louça “ratinha”, para muitos a verdadeira louça de Coimbra.
Mas afinal o que é a louça “ratinha”? Se não sabe, fique connosco que vamos contar-lhe tudo.
A faiança ratinha, difícil de datar, mas que se acredita ser a mais autêntica de Portugal foi ganhando protagonismo em Coimbra pela sua decoração rica e apelativa, mas também pelo seu baixo custo mas grande durabilidade. Posteriormente começou a ser conhecida no Alentejo devido às migrações sazonais dos camponeses do norte e centro que rumavam a sul para trabalhos agrícolas e levavam as suas louças tão características e alegres que os locais muito apreciavam. No final da época de trabalho os senhores dos campos ficavam com estas cerâmicas em troca de roupas a agasalhos. O nome deriva disto mesmo, os ratinhos, era o termo utilizado para designar os camponeses que iam para as mondas do arroz, as ceifas do trigo e a apanha da azeitona no Alentejo. Assim, esta louça passou a ser conhecida como louça “ratinha” ou “troca-trapos”. Sendo louça “ratinha” o termo que assumiu maior expressão.
Carlos Tomás conta-nos que desta faiança popular fazem parte pratos, tigelas, galheteiros, candeeiros, alguidares, entre muitos outros, decorados com peixes, aves, lavradores, músicos, pescadores e pastores, pintados minuciosamente à mão. Também as cercaduras de palmas e as cores vivas como o verde-cobre e o morado fazem parte das características deste tipo de louça. Louça essa que Carlos Tomás conheceu e lhe aprendeu a arte, ainda miúdo, quando tinha apenas 11 anos, na Antiga Cerâmica de Coimbra. Depois disso passou por muitas outras fábricas e em todas elas foi acumulando conhecimento e experiência. Em 1984 decide que está na hora de arriscar por conta própria e abre uma fábrica de cerâmica, em São Martinho do Bispo. Anos mais tarde, abre no número 4 do Largo da Sé Velha uma loja onde expõe e vende milhares de peças de cerâmica artística até aos dias de hoje.
Quem entra na loja de Carlos Tomás não consegue parar de olhar em redor e ficar surpreendido a cada instante. São tantas as peças, cheias de detalhe e minúcia, que é impossível não nos deixarmos envolver. A louça de Coimbra assume lugar de destaque, mas a louça “ratinha” ocupa o coração deste artesão para quem a cerâmica não tem segredos.
Ao visitar a loja não é raro encontrar Carlos Tomás, sentado a um canto, a pintar louça “ratinha”, já considerada a louça mais bonita do mundo. Se tiver essa sorte, aproveite o momento para ver a delicadeza e o detalhe deste trabalho.
Ao longo dos séculos a história de Coimbra foi estando ligada à cerâmica e olaria, chegando mesmo a haver dezenas de olarias na cidade. Desta época resta-nos apenas a memória gravada nas ruas. A Rua da Louça ou o Largo das Olarias herdaram o seu nome dos anos em que esta atividade era central em Coimbra.
Se ficou curioso e quer saber mais sobre os pratos ratinhos, não deixe de visitar a loja de Carlos Tomás de segunda a domingo das 9h00 às 19h00, no bonito Largo da Sé Velha.