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A Escola da Noite retoma ensaios de “Palhaço velho, precisa-se!”

Concluído o período de férias, o elenco d’A Escola da Noite retomou esta semana os ensaios de “Palhaço velho, precisa-se!”, do dramaturgo romeno Matéi Visniec. A nova criação do grupo de teatro de Coimbra é encenada por António Augusto Barros e tem estreia marcada para Setembro, no Teatro da Cerca de São Bernardo.

À beira de alcançar as 70 novas criações em 28 anos de actividade ininterrupta, A Escola da Noite decidiu voltar a explorar a obra do dramaturgo e romancista romeno Matéi Visniec, autor de“Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres”, apresentado pela companhia em 2014.
Em “Palhaço Velho, Precisa-se!”, três palhaços, velhos e sem trabalho, encontram-se numa sala de espera para uma entrevista de emprego e precisam de provar que estão à altura da “oportunidade”. A alegria do reencontro, as suas memórias e a competição em que se vêem envolvidos conjugam-se, num espaço apertado e claustrofóbico ante uma porta fechada, numa espécie de comédia trágica, com humor, tensão e perfídia.
A 69.ª criação da companhia estreará e cumprirá uma temporada no TCSB, em Coimbra, ao longo do mês de Setembro. Conta com tradução de Regina Guimarães, encenação de António Augusto Barros, interpretação de Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash, cenografia de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, desenho de luz de Danilo Pinto e som de Zé Diogo.

“uma peça para o nosso tempo”Em todos os países onde foi levada à cena têm sido identificadas as influências de “À espera de Godot”, de Samuel Beckett, também por se tratar de uma situação onde, aparentemente, “não acontece nada” para além dos (fortíssimos) diálogos entre personagens. Numa outra perspectiva, o crítico teatral dos Estados Unidos Peter Filichia escrevia em 2004: “é, definitivamente, uma peça para o nosso tempo. (…) Ela lida não só com a profunda ansiedade de um indívíduo que está desempregado mas também com o medo genuíno de que esteja demasiado velho para o mercado de trabalho.”
Um outro crítico teatral, Roland Sabra, escreveu em 2006, a propósito de uma encenação desta peça: “É uma história de homens, uma história de ódio e amizade, uma história de rivalidade e cumplicidade, uma história de palavras e gestos, uma história de ilusões perdidas e de velhice, uma história que coloca o eterno problema de como nos livrarmos do outro com quem temos tanto a partilhar.”

Matéi Visniec

Matéi Visniec nasceu no norte da Roménia, a 29 de janeiro de 1956.
Na Roménia de Ceausescu, encontra rapidamente na literatura um espaço de liberdade. Alimenta-se de Kafka, Dostoievski, Camus, Beckett, Ionesco, Lautréamont… Ama os surrealistas, os dadaístas, os discursos fantásticos, o teatro do absurdo e do grotesco, a poesia onírica e mesmo o teatro realista anglo-saxão.
Estudante de Filosofia em Bucareste, torna-se muito activo no seio da chamada “geração de 1980”, que baralhou a paisagem poética e literária da Roménia da época. Acredita na resistência cultural e na capacidade da literatura para demolir o totalitarismo. Acredita sobretudo que o teatro e a poesia podem denunciar a manipulação das pessoas através das “grandes ideias”.
Afirma-se na Roménia com a sua poesia refinada, lúcida, escrita com amargura. Começa a escrever teatro em 1977: as suas peças circulam abundantemente no meio literário, mas a sua subida ao palco é proibida.
Deixa a Roménia em 1987 e pede asilo político em França. Redige, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, uma tese sobre a resistência cultural nos países da Europa de Leste na época comunista, mas começa também a escrever peças de teatro em francês. Entre 1988 e 1989 trabalha para a BBC e a partir de 1990 para a Radio France Internationale.


Depois de um primeiro sucesso nas Jornadas dos Autores organizadas pelo Théâtre les Célestins de Lyon, em 1991, com a peça “Les Chevaux à la fenêtre”, Matéi Visniec é descoberto por numerosas companhias e as suas peças são representadas em Paris, Lyon, Avignon, Marseille, Toulouse, La Rochelle, Grenoble, Nancy, Nice, etc. Neste momento, Matéi Visniec conta com numerosas criações em França. Cerca de trinta das suas peças escritas em francês estão editadas.
Esteve em cartaz em cerca de trinta países, como Itália, Grã-Bretanha, Polónia, Turquia, Suécia, Alemanha, Israel, Estados Unidos Canadá, Japão, Brasil e Portugal.
Tornou-se, desde 1992, um dos autores mais representados no Festival Off de Avignon com cerca de quarenta criações. Em Paris as suas peças foram representadas em vários teatros.
Na Roménia, depois da queda de Ceausescu, Matéi Visniec tornou-se o autor dramático vivo mais representado. É também autor de três romances editados na Roménia.
Recentemente recebeu: o Prémio Jean-Monnet da Literatura Europeia 2016; o Prémio Europeu 2009 da SACD; o Prémio “Coup de Coeur” (imprensa) Festival Off de Avignon 2009, pela peça A palavra Progresso na boca de minha mãe soava terrivelmente falsa; o Prémio “Coup du Coeur” (imprensa) Festival Off de Avignon 2008, pela peça Os desvãos Cioran ou Mansarda em Paris com vista para a morte.

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