Universidade de Coimbra descobre desenhos inéditos sobre o seu Jardim Botânico
Descobertos desenhos inéditos que oferecem um novo olhar sobre a construção do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra
No ano em que se celebram os 250 anos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra (UC), o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC) dá a conhecer uma coleção de 40 desenhos do Jardim Botânico da Universidade (JBUC), 35 dos quais inéditos, abrangendo um arco temporal de 200 anos.
Os 35 desenhos inéditos da coleção, que fica hoje disponível num catálogo em formato ebook produzido pelo Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e editado pela Imprensa da Universidade, foram descobertos em finais de 2021. Ana Margarida Dias da Silva, responsável pelo arquivo do DCV, conta que «vários rolos mal-acondicionados e com muito pó, dispostos em prateleiras no extremo do depósito da biblioteca de botânica (no sótão do edifício de S. Bento), chamaram a nossa atenção. Desenrolados com todo o cuidado, foram revelando, um após outro e perante a nossa surpresa e alegria, desenhos para nós desconhecidos e de notória antiguidade».
Após uma limpeza superficial dos achados, prossegue, «um olhar mais atento revelou plantas do Jardim Botânico, bem como plantas e alçados de muros, escadarias, gradeamentos e estufas. Intuímos do seu interesse, mas era urgente investigar datas, autorias, descobrir como tinham ido ali parar e, acima de tudo, se eram, realmente, inéditos».
Foram então consultadas as obras de referência sobre o Jardim Botânico e sobre a reforma pombalina da UC e verificou-se que, «para além dos cinco desenhos do Jardim Botânico pertencentes ao DCV e já conhecidos, não existia nenhuma referência aos desenhos descobertos», nota Ana Margarida Dias da Silva.
Segundo a responsável, a coleção agora tornada pública, e que conta com nomes como Macomboa, José do Couto, Neves e Mello e Cottinelli Telmo, fornece «um novo olhar sobre o processo de construção do JBUC, as soluções arquitetónicas projetadas e as realizadas, no diálogo entre as componentes artística e científica». Espera que «contribua para o melhor conhecimento e novas leituras sobre o que foi idealizado e/ou projetado, o que foi aprovado e o que foi, efetivamente, construído, moldando o Jardim Botânico que hoje conhecemos, simultaneamente espaço de ciência, coleção biológica e um espaço emblemático da Universidade e da cidade de Coimbra».
Os desenhos descobertos revelam ter sido «documentos de trabalho com anotações a lápis, que mostram hesitações e alterações e que ficavam guardados na “gaveta do jardineiro”. Alguns desses desenhos avulsos são reveladores de projetos nunca concretizados ou muito modificados na sua execução. Na verdade, o carácter utilitário destas peças desenhadas poderia ter ditado a sua eliminação, finda a concretização da obra ou a rejeição do projeto», finaliza a especialista da FCTUC.
Por seu lado, o diretor do Departamento de Ciências da Vida, Miguel Pardal, afirma que, «ciente do valor e importância da coleção, o DCV assumiu, desde o primeiro momento, o financiamento do restauro e da digitalização dos desenhos, de forma a garantir a sua preservação e disponibilização para estudos futuros».
O “Catálogo dos desenhos do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Coleção do Departamento de Ciências da Vida (séculos XVIII a XX)” reúne a totalidade dos desenhos do JBUC pertencentes ao DCV, incluindo os cinco já conhecidos e 35 inéditos (três desenhos do século XVIII, 27 do século XIX e 10 do século XX). As autoras da obra, Ana Margarida Dias da Silva e Maria Teresa Gonçalves, pretendem também disponibilizar online, em acesso aberto, fontes iconográficas essenciais para o estudo da construção e das soluções arquitetónicas escolhidas para o Jardim Botânico.
Cristina Pinto | Universidade de Coimbra