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Conversas: João Assunção – “A Associação Académica de Coimbra é um constante sonho de Gerações inacabado”

João Assunção, nascido e criado em Coimbra, foi atleta da secção de andebol da AAC, é licenciado em Direito e em breve Mestre. 

Hoje damos-lhe a conhecer o João Assunção, enquanto presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC). Ele, que não esconde o orgulho de servir a academia. 

Qual a principal razão desta candidatura? Agora à presidência?

“Assumimos esta intenção de liderar os destinos da Associação Académica de Coimbra por acreditarmos convictamente na nossa capacidade de trilhar um futuro promissor para a Academia de Coimbra e para a AAC. Com uma equipa que cruza a experiência com novos dirigentes, elementos vindos das culturais, desportivas e núcleos, cremos que temos toda a capacidade para escrever uma bela página de história da Associação Académica de Coimbra”.

Quais os principais objetivos desta candidatura?

“A minha ligação à Associação Académica de Coimbra é muito anterior à minha condição de estudante da Universidade de Coimbra. Nasci e cresci em Coimbra, fui atleta da secção de andebol da AAC e, por esses motivos, sempre compreendi a força, pluralidade e grandeza desta Instituição. Essa proximidade permitiu-me, por outro lado, compreender que a Associação Académica de Coimbra é muito mais do que uma Associação de estudantes comum, tendo uma forte importância no quotidiano das gentes de Coimbra e em milhares de antigos estudantes da Academia espalhados por todo o país. É esta consciência que nos incentivou a afirmar o desejo em formar uma Académica de Gerações, uma associação liderada por estudantes, para todos os que dela estão afetivamente próximos. Estamos confiantes que esta opção de respeitar e incentivar aquilo que consideramos ser a distinção clara da Associação Académica de Coimbra em relação a outras associações de estudantes será efetivamente bem recebida pelos milhares de pessoas que encaram a Associação Académica de Coimbra como uma Instituição única no panorama nacional. 

Por outro lado, não olvidamos a necessidade constante da Associação Académica de Coimbra ser uma voz intransigente na defesa dos interesses dos estudantes da Academia de Coimbra e do ensino superior português. Estamos totalmente comprometidos com a visão de um ensino superior enquanto bem público universal, totalmente gratuito e que seja o ascensor social necessário numa sociedade confrontada pela sua inamovibilidade. Para isto acontecer é prioritário que se mantenha o reforço da ação social escolar, mas também que se concentre esforços em repensar o sistema de acesso ao ensino superior português, garantindo que a condição socioeconómica desigual de que cada candidato parte não influencie as suas oportunidades de ingresso no ensino superior português”.

Há alguma coisa que ficou por realizar do mandato anterior que queira ver a ir para a frente este ano, agora como presidente?

“A Associação Académica de Coimbra é um constante sonho de Gerações inacabado. No dia em que um líder desta Casa sair dela com o sentimento de plena realização, só poderá ser revelador de duas coisas: ou está a mentir ou a Associação Académica de Coimbra deixou de ser a utopia que sempre foi. Naturalmente há mandatos mais ou menos conseguidos, e espero que o nosso se enquadre na primeira categoria, mas certamente que haverá sempre projetos para concretizar. 

Nesta transição pretendo, naturalmente, colmatar algumas das falhas de mandatos anteriores. A aproximação aos conimbricenses, a reformulação do museu académico e uma gestão eficiente dos espaços da Associação Académica de Coimbra, possibilitando a prossecução plena de toda a atividade desportiva, cultural e política da AAC, são caminhos que temos de trilhar durante este mandato”. 

Qual o diagnóstico da Associação Académica de Coimbra?

 “A Associação Académica de Coimbra vive um período, à semelhança de toda a sociedade portuguesa, de tremenda instabilidade financeira. A incerteza do amanhã, a falta das receitas da Queima das Fitas e da festa das latas, o corte com os nossos parceiros comerciais provocado pela Covid-19 e aumento exponencial das despesas têm sido – e serão ainda com maior intensidade nos próximos meses – desafios que colocam em causa a plenitude da atividade da nossa Instituição. Confio, no entanto, na coragem e resiliência da Associação Académica de Coimbra, dos dirigentes e dos colaboradores que a compõem. Estou convicto que, com o trabalho conjunto de todas e todos que constituem esta Casa, o atual estado de emergência que vivemos não será, no futuro, mais do que uma má memória”. 

 Qual a sua opinião sobre a abstenção por parte dos alunos?

“É obviamente negativo quando uma elevada percentagem dos indivíduos que compõem um qualquer sistema democrático decide não participar num processo eleitoral. Não tem faltado, contudo, quem aproveite a taxa de abstenção como argumento contra o sistema democrático, desejando colocar em causa a legitimidade de quem foi eleito. A abstenção na Academia é uma extensão do fenómeno global das sociedades ocidentais democráticas, não sendo algo endémico da Associação Académica de Coimbra. Há, naturalmente, ações a tomar para o evitar, como a formação cívica e política no sistema nacional de educação e a adaptação do conteúdo político aos interesses e prioridades das gerações mais jovens. Mas mobilizar o fenómeno da abstenção como se fosse um fenómeno provocado pelo próprio sistema é negar a democracia e a capacidade implícita de todo o cidadão de participar da forma que lhe aprouver no processo eleitoral. Talvez esteja na altura de começarmos a questionar as verdadeiras intenções de quem o faz…” 

 O peso de ser presidente já se sente? 

“A última semana tem sido um misto de tremendo orgulho e responsabilidade. Sabia o peso institucional e a carga de trabalho que a Associação Académica de Coimbra me iria exigir. Nesta primeira semana já tive a oportunidade de me inteirar todos os processos pendentes, calendarizar atividade e até de marcar a primeira Assembleia Magna do mandato, onde pretendemos discutir as prioridades políticas da Academia a apresentar aos candidatos à Presidência da República. Têm sido, por isso, momentos difíceis recheados de trabalho. No entanto, se fosse fácil não era para a Associação Académica de Coimbra”. 

Quais são as maiores debilidades da AAC? 

“Não consigo identificar algo que se possa classificar como debilidade numa Instituição como a AAC. Naturalmente que a necessidade de mais espaços para a prossecução da atividade política, desportiva e cultural da AAC, bem como a instabilidade financeira que hoje a Instituição vive são dificuldades que temos de resolver. Mas estou plenamente convicto que nada torna ou tornará a AAC debilitada no futuro”

O que é que esta AAC tem que as outras não têm?  

“De forma modesta, e respeitando os meus colegas das outras Associações Académicas, diria praticamente tudo. Desde o legado formado em 133 anos de história, a um símbolo inigualável, o facto de sermos um dos clubes mais ecléticos da história portuguesa, a ligação histórica e permanente a toda a sociedade civil… torna-se difícil apontar o que diferente temos quando a nossa singularidade implica que não sejamos uma Associação Académica comum. A AAC é única em toda a linha”.

 Qual foi o seu percurso no associativismo até chegar aqui? 

“Iniciei o meu percurso associativo ainda no ensino secundário, na Associação de Estudantes da Escola Secundária Quinta das Flores, em Coimbra. Presidi esta Associação em 2013, enquanto era atleta da secção de andebol da AAC, onde viria, um ano mais tarde, a tomar posse como secretário da direção. Já na Faculdade de Direito presidi a Associação Europeia de Estudantes de Direito (ELSA Coimbra). Em 2017 entrei para a Direção-Geral da AAC, então como coordenador da pedagogia tendo, nos dois anos seguintes, sido vice-presidente da DG/AAC. Ocupei, ainda, a função de ligação à AAC/OAF e fiz parte da última comissão de redação dos estatutos da AAC”. 

Que importância tem o associativismo na vida dos jovens? 

“Creio que o associativismo assume uma componente fundamental na formação cívica e política da juventude. Seja de que cariz for, a possibilidade de poder representar um conjunto de semelhantes possibilita experiências únicas para todos os jovens que cedem algum tempo da sua vida a essas causas comuns. Em Portugal, esta componente associativa está, felizmente, bem enraizada, havendo oportunidade de colaborar para um interesse coletivo em praticamente todas as áreas da vida social. É uma oportunidade que não deve ser ignorada por nenhum estudante”.

No fim do mandato, como gostaria de ser lembrado? 

“Gostava de ser lembrado como um Academista de paixão que foi capaz de firmar um novo pacto entre os estudantes e a cidade que os acolhe. Um líder da AAC que foi capaz de superar as dificuldades e de lhe dar uma nova vitalidade para as próximas décadas. Um presidente que amou esta Casa e que espera ter sempre a oportunidade de a poder admirar com o orgulho com que sempre admirou esta Instituição. Se for assim lembrado saio, sem sombra de dúvida, muito feliz”. 

E para o futuro, quais são os planos que tem? 

“Pretendo, no próximo dia 22 de dezembro, concluir o mestrado em Direito. Além disso, já estou inscrito no mestrado em economia, planeando terminá-lo até ao fim do mandato. Após isso, entrar no mercado de trabalho, mas confesso ainda não ter grandes planos quanto a isso…”

Algum conselho que gostaria de deixar? 

“Sim, que sintam e ajudem a construir uma Associação Académica de Coimbra orgulhosa do seu passado, focada no presente, pronta para explorar o futuro. Uma Académica progressista na ação que conserva o seu legado; uma Académica de Coimbra acarinhada pelo país e pelo mundo; uma Académica dirigida por Estudantes para todos os que dela estão afetivamente próximos; uma Académica intemporal; uma Académica de Gerações!”

Gostava de ser lembrado como um Academista de paixão que foi capaz de firmar um novo pacto entre os estudantes e a cidade que os acolhe”. 

Entrevista por: Sara Salgueira


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