Três filmes, três países, em três cidades. É assim que o FILMar, projeto que a Cinemateca desenvolve desde 2020 para a digitalização e promoção do património fílmico relacionado com o mar, vai começar a contagem decrescente para o seu término, precisamente a 30 de abril, sete meses depois do dia em que se celebra o Dia Internacional do Mar.
A sessão decorre na Cineamteca Portuguesa em Lisboa, com a Casa do Cinema de Coimbra, na cidade onde nasceu José Álvaro Morais, que faria 80 anos a 2 de setembro, e em Évora, cidade da qual parte ZÉFIRO, filme que observa a construção de Portugal a partir dos mitos e das suas histórias, ligando assim ao título recentemente atribuído de Capital Europeia de Cultura, em estreita colaboração com o Cinema-fora-dos-leões, em Évora. Há mar e mar, há filmes e há FILMar.
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ÅRET GJENNOM BØRFJORD
“Um Ano numa Estrada Abandonada”
de Morten Skallerud
Noruega, 1991 – 12 min / legendado eletronicamente em português
BÓNDI
“Agricultor”
de Thorsteinn Jonsson
Islândia, 1975 – 29 min / legendado eletronicamente em português
ZÉFIRO
de José Álvaro Morais
com Luís Miguel Cintra, Paula Guedes, Marcello Urgeghe
Portugal, 1994 – 52 min
Os três filmes desta sessão observam a transformação da paisagem e das comunidades, reforçando e problematizando as fronteiras do sentido de pertença e compromisso com a própria história e memória. São exemplos de como o cinema pode ser lugar de interpretação dos coletivos, sendo filmes onde a pequena escala das escolhas individuais é reflexo de movimentações maiores, nem sempre percetíveis e com consequências para o nosso entendimento sobre as heranças, narrativas e discursos. Constituem, em si mesmos, pontos de reflexão sobre a identidade individual, comunitária, social e geográfica, reforçando comunhões e coincidências. “UM ANO NUMA ESTRADA ABANDONADA” reúne em 12 minutos, um ano de vida, um exercício de estilo visual – e um dos poucos filmes noruegueses rodados em 70mm – onde a morfologia da paisagem de uma cidade piscatória do norte da Noruega é transformada pela temporalidade. “AGRICULTOR” é um pungente retrato de resistência e ética na desolação e tensão entre a vida e a natureza, onde as obras de uma estrada vão contradizer décadas de isolamento de um fiorde. O mar é, como em ZÉFIRO, hipótese de fuga, mas de desagregação, de conquista, mas de profunda alteração, para a qual importa saber a que horizontes e coordenadas se responde. A viagem de um país sobre a sua própria História, do sul para norte, e não como na narrativa oficial, é motor para uma reconstrução da ideia que fazemos de nós mesmos enquanto país de marinheiros.