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Mário Mata com Daniel Romeiro

  • Liquidâmbar Portugal (mapa)

Mário Mata voz e guitarra acústica// Daniel Romeiro piano.

Biografia pelo Jornalista Viriato Teles

Mário Mata – A arte e a vida como elas são

«Se Mário Mata fosse um pássaro seria com certeza um melro ou um pardal ou mesmo uma gaivota. Nunca poderia ser um canário, pela simples razão que não seria capaz de sobreviver numa qualquer gaiola, por mais dourada e confortável que fosse. O Mário é um homem livre, e dessa condição não prescinde, mesmo quando essa opção dói. E frequentemente dói.»
As palavras são do jornalista Viriato Teles, no texto introdutório ao cd “Sinais do Tempo” (2012) e definem, no essencial, o que tem sido a vida e o percurso musical de Mário Mata.

Surgido em plena fase de ebulição da música popular portuguesa, em 1981 (entre o “Ar de Rock”, de Rui Veloso, e “Por Este Rio Acima”, de Fausto, que ficaram como marcos essenciais desse período), Mário Mata afirmou-se desde cedo como prossecutor de uma estética popular moderna, através de uma linguagem muito próxima do quotidiano, sem desleixar as preocupações estéticas nem se render a facilitismos.

“Não Há Nada Pra Ninguém” foi o primeiro grande êxito deste músico nascido em Angola em 1960, e marcou toda uma geração. Ao misturar a música de raiz popular com as tonalidades do pop/rock, Mário Mata conseguiu criar um estilo próprio e deixar a sua marca na música portuguesa do último quartel do século XX.

Mas o êxito do disco de estreia veio a revelar-se algo perverso, uma vez que o músico acabou por ficar como que refém desse sucesso nos anos que se seguiram. E é assim que, depois de mais dois discos num registo semelhante (“Não Mata Mas Mói”, 1982, e “Deix’ós Poisar”, 1988), faz um primeiro grande intervalo nas gravações, a que só regressa oito anos depois, em 1994, com o álbum “Somos Portugueses”.

Os resultados comerciais foram surpreendentes, já que grande parte dos temas foram sucessos («Somos Portugueses»; «Há dias de manhã», «Vamos lá falar», «Lá vou eu pra cidade», «Sou do Contra», «Faz-te à vida», etc.), mas inexplicavelmente segue-se um novo interregno, desta vez de dez anos.

Só em 2004 volta à edição discográfica, com o cd «Dupla Face», onde procura trilhar novos caminhos. O disco não teve a atenção que merecia (ignorado pelas TVs e Rádios mas aclamado pela imprensa escrita) mas serviu para provar a quem tivesse dúvidas que Mário Mata estava vivo e disposto a continuar.

Ainda assim, tivemos de esperar mais sete anos para ouvir mais um registo discográfico, “Sinais do Tempo”, com um novo lote de canções, fazendo-se acompanhar por um naipe de músicos de primeira água, e mantendo-se sempre fiel às características que melhor lhe conhecemos. Aventurando-se novamente pelo registo da ironia («Essa é Que é Essa» em dueto com Fausto Bordalo Dias, «Vamos Lá Suar é Fixe», «Ai Deus do Céu», «Já Fomos Enganados», «Amores Proibidos»), neste disco Mário Mata foi muito mais além, envolve-se (e envolvendo-nos) em textos que nos falam de coisas simultaneamente tão simples e tão complexas como o amor, as cidades, as pessoas comuns. A vida, afinal, tal como ela é.

Em 2014, em colaboração com o escritor Graham Dampier, nas letras, e Mário Mata, na composição e na voz, sai um disco magnífico infelizmente não editado entre nós. Sob o pseudónimo The Night Street Band, o cd “Amber Dawn” atinge alguma notoriedade na Africa do Sul, Japão e em duas rádios de Boston (USA).

Mais uma vez o Mário Mata desaparece, desiludido com a música, com a lei do mercado, a falta de convites para espectáculos, programas de televisão e por a sua música não passar nas rádios.
E quando menos se esperava que regressasse, eis que aparece através da mão do guitarrista e produtor Chico Martins, o José Cid na vida do Mário Mata. E em 2016 pela mão do próprio Cid (que assina a produção) surge o CD “Regresso”, misto de temas antigos renovados e alguns originais que trouxeram de volta o “velho” Mário, renovado, mas fiel àquilo que sempre foi: um espírito rebelde e insubmisso, atento, mas nunca venerador, nem obrigado.
Desde 2016 que Mário Mata tem participado nas tournées do amigo José Cid com grande sucesso. Em 2022 sai o décimo trabalho de Mário Mata de título X que indicava o tesouro tanto a nível de arranjos como de composição servida por belos textos revelando um Mário Mata muito mais maduro. Mais uma vez ignorado inexplicavelmente pelos mídia, Mário Mata segue o seu percurso nunca desistindo nem se vendendo a facilidades, tal como o Zé da canção sempre a lutar contra um sistema que não o entende. Fonix é um problema!

Como escreveu Viriato Teles, na já citada apresentação de “Sinais do Tempo”, «Mário Mata não teme expor aquilo que sente. Porque sim. Porque ser autêntico é a sua maneira de estar vivo e de participar na agitação do mundo à sua volta. A autenticidade é, aliás, talvez a mais relevante característica deste músico. E talvez seja isso, também, que muitos não lhe perdoam. Num tempo de mentira e futilidade, ser verdadeiro e não usar máscara é quase um pecado. Que o Mário comete com toda a convicção e sem dar mostras do mínimo arrependimento. E ainda bem. Para ele e para nós, que temos a felicidade de poder continuar a ouvi-lo.»

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