"Histórias das Gentes da Baixa de Coimbra" por Nuvideia. Capítulo 1: Sr. Costa, Ourivesaria Costa
“Sou um homem da Baixa. Vivi sempre na Baixa. Nasci na Baixa, trabalho na Baixa…”
É assim que o Sr. Costa começa por se apresentar. Um homem da Baixa!
E como poderia ele não ser, se está prestes a completar oitenta anos na Ourivesaria Costa?
Imaginam-se a trabalhar oitenta anos no mesmo local? É difícil até de imaginar, principalmente à luz dos dias de hoje. Mas foi assim o percurso do Sr. Costa.
A sua vida é marcada por duas grandes coincidências. A primeira é ter enveredado pelo ramo da Ourivesaria. Aos dez anos começou a trabalhar numa oficina de Ourivesaria mas, como nos explicou, os pais podiam tê-lo colocado em qualquer outro ramo, “pura coincidência”, disse.
A segunda é ter ido parar à Ourivesaria Costa. E, se tal como nós, tem ideia que o nome da Ourivesaria se deve ao Sr. Costa, está muito enganado caro leitor. O pai do Sr. Costa era muito amigo do dono da Ourivesaria que, “pura coincidência”, também se chamava Costa. A vida tem coisas engraçadas, não tem?
Começou como marçano, nome dado na época aos principiantes, aos moços de recados, e chegou a sócio-gerente, cargo que mantém nos dias de hoje.
Ao longo dos anos foram muitas as funções que assumiu: foi presidente do Comércio de Coimbra, foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC). Foi presidente da Federação de Comércios Retalhistas, foi presidente de Clubes… Uma vida dedicada ao trabalho e a muita causas, reconhecida com a atribuição, por unanimidade, da Medalha de Prata do Município.
Viveu os anos de ouro da Baixa em que para passar nas ruas da Baixinha, em épocas festivas como o Natal ou a Páscoa, era necessário pedir licença para passar. Uma realidade difícil de imaginar para quem, tal como nós, não viveu estes tempos. Viu chegar os Centros Comerciais e assistiu ao encerramento de muitas lojas na Baixa. Viu o turismo a aumentar e a trazer outra dinâmica à cidade e aos pequenos comércios. Viveu a Pandemia e, agora, uma guerra. Viu e viveu muito o Sr. Costa e, quando há dez anos falámos com ele pela primeira vez, disse-nos sem hesitar: ”enquanto der para pagar as despesas, não vou fechar as portas”. Hoje mantém a mesma opinião mas com mais receio. Quando conversámos pela primeira vez, o Sr. Costa não acreditava ser possível vir a ter um dia sem uma única venda. Hoje, partilha, “há dias em que o movimento na caixa é zero”. Nós acrescentamos que só muita determinação e paixão o mantém atrás do balcão.
O Sr. Costa tem noventa e um anos. É um “homem de Coimbra e que defende Coimbra” e que, todos os dias, há 80 anos, abre as portas da Ourivesaria Costa. Atualmente, a ourivesaria mais antiga da cidade.
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