w360.pt: No Zero Box Lodge de Coimbra dormimos dentro de um caixote

Será que o conceito de dormir dentro de um caixote é apelativo o suficiente para que algum leitor comece a ler este texto? Ou até para que clique no link de um artigo que parece um convite à tortura? Talvez as primeiras fotografias sejam capazes de mostrar alguma da irreverência e até beleza deste espaço e vendo o vídeo do W360.PT é fácil perceber que estamos perante um sítio carismático e atrativo.

O primeiro contacto com um hotel é quase sempre a receção e connosco não foi diferente. Quando chegamos somos recebidos junto a um balcão que tem nas costas a inscrição “Auto Garage”. É a primeira pista para a história do Zero Box Lodge que nasceu num grande armazém onde já tinha funcionado uma garagem, uma oficina e até uma bomba de gasolina. Vamos ter mais sinais desta outra vida, mas antes do check-in – e como não vamos conduzir – bebemos uma cerveja artesanal. É uma cortesia da casa que vamos acabar de beber no quarto.

O caminho até lá não é muito diferente do que alguns dos carros que aqui vinham para serem reparados tinham que fazer. Há rampas que permitem o acesso aos três andares do edifício, mas estas já são mais estreitas e mais confortáveis. Em vez do muito provável cimento ou alcatrão são forradas a tecido com imagens de desenhos animados no que parece ser um convite à procura do Wally. A iluminação lateral deixa que o chão sobressaia enquanto no ambiente escuro das plataformas é o vermelho dos néons que marca o aspeto geral.

É para estas luzes vermelhas que vamos olhando para encontrar a nossa caixa. Há 44 e estão empilhadas umas em cima das outras. O conceito japonês dos hotéis cápsula é evidente, mas quando entramos percebemos que aqui há mais espaço. Os quartos continuam a ser pequenos, apenas com uma cama de casal no interior, ar condicionado e uma casa de banho privativa. Não encontramos a televisão nem o telefone. A ideia é podermos relaxar sem distrações, embora tenhamos à disposição uma rede wi-fi.

As caixas são insonorizadas e não é possível ouvir o que se passa lá fora. Há uma pequena janela, mas está virada para o interior do edifício o que significa que não há barulho, mas também não há luz solar. Acorda de manhã quem conseguir ou quem não se esquecer de ativar o despertador. Os poucos mais de 15 metros quadrados estão pensados para quem se quer desligar do mundo, mas não são indicados para claustrofóbicos.

A prova da insonorização dos quartos conseguida pelos materiais escolhidos pelo arquiteto Gonçalo Queirós Carvalho e pelo atelier de design D’Alves é que quando terminamos a nossa cerveja artesanal, vamos tentar sentir o andamento de uma cidade universitária como Coimbra. Não precisamos de ir longe, apesar de não o ovirmos na nossa caixa, o Bar Bixos – que está no piso de cima deste edifício – está repleto de gente animada pela música.

Subimos por uma escada vermelha em caracol e a primeira chamada de atenção é feita pela gigantesca escultura do artista Leonel Moura que mostra uma mulher a segurar um elefante. É ponto nevrálgico deste bar que deve o seu nome a dois elementos fundamentais da cultura de Coimbra. O escritor Miguel Torga (que escreveu o livro de contos Bichos) e os caloiros (que também são chamados de bichos quando chegam à universidade).

Esta ligação entre a cidade e os bichos não é apenas conseguida por este artista plástico. A localização do Zero Box Lodge também ajuda a que se conheçam várias facetas da cidade. Há o património histórico da Alta que está classificado como Património da Humanidade e que se acede através de uma curta caminhada a pé, mas também há o rio, mesmo ali em frente. E quem fala de Mondego fala também de Parque Verde, um dos maiores da cidade para onde somos convidados pelas duas raquetes de badminton que temos penduradas no roupeiro do quarto. Podemos alugar ou comprar e seguir para o contacto com a natureza.

O Zero Box Lodge nasceu no Porto, num edifício que antes de ser um hotel era uma camisaria e um banco. Em Coimbra o ponto de partida foi esta antiga garagem, oficina e bomba de gasolina. Em breve vai nascer mais um em Lisboa. O preço por noite começa nos 50 euros para duas pessoas.