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Assombrações, rituais, legados e transmissões

  • TAGV Coimbra, Coimbra, 3000-343 Portugal (mapa)

O tema da assombração estará no centro do nosso trabalho: quais são as narrativas enterradas, as histórias-fantasma que as nossas narrações dominantes nos impedem de ouvir? À medida que o nosso presente ganha fissuras, as grandes narrativas que ainda ontem nos sustentavam revelam hoje a sua obsolescência. A partir destas falhas, hoje inegáveis, reaparecem as narrativas minoritárias, inaudíveis e invisíveis, voltando para nos assombrar. Como é que estas histórias fizeram para sobreviver ao silêncio, para se tornarem estas centelhas precárias, mas bem vivazes, que assombram agora as nossas memórias, os nossos sonhos, e nos recordam os tremores da nossa humanidade? Como é que podemos escutá-las, pormo-nos ao seu serviço, disponibilizarmo-nos para a sua continuação? Que mecanismos devem ser concebidos para que estas recriações possam ser efetuadas? Em que condições podemos aprender com elas? A partir de relatos contemporâneos, reais e ficcionais, e da sua reconstituição, procuraremos compreender as condições de recriação e releitura dos acontecimentos, para que da sua reativação surjam novas versões, menos polarizadas, capazes de abrir caminho a uma zona intermédia, de perturbação, onde outras formas de coexistência se revelem possíveis.

Anne-Cécile Vandalem atriz, escritora e realizadora belga. Depois de estudar representação no Conservatório Real de Liège, Anne-Cécile Vandalem iniciou a sua carreira de atriz com vários encenadores e coletivos de teatro belgas. Foi em 2003 que iniciou o seu trabalho de escrita dramática com Zaï Zaï Zaï (2003), seguido de Hansel et Gretel (2005). Desde então, a ficção tornou-se a forma preferida da autora. De 2008 a 2013, lançou-se na escrita e direção de uma trilogia sobre o tema da habitação, vista como o lugar de confinamento e isolamento através do qual e com o qual tudo acontece. Partindo de universos ultrarrealistas, definiu o quadro de tragédias domésticas ao mesmo tempo individuais com (Self) Service (2008), familiares em Habit(u)ation (2011) e coletivas com After the Walls (Utopia) (2013). Paralelamente a esta trilogia, criou Michel Dupont, réinventer le contraire du monde, uma fábula sonora para adultos e adolescentes. Em 2014, Anne-Cécile Vandalem começou a explorar as modalidades da postura e da impostura. Questionou na sua escrita a capacidade de ação e de transformação da realidade do sujeito/indivíduo nas diferentes esferas da sociedade e abordou a questão do desvelamento e da fragilidade como postura honesta e/ou estratégica. Criou três dispositivos: Still too sad to tell you (instalação vídeo), Que puis-je faire pour vous? (projeto no espaço público) e Looking for dystopia (obra multimédia). Seguiu-se Tristesses, a primeira parte de uma trilogia sobre os grandes fracassos da humanidade, estreada no Festival de Avignon de 2016. Tristesses é um espetáculo que alia teatro, cinema e música, e que lhe valeu o prémio de melhor espetáculo no Prix du Théâtre de 2016 (BE), o prémio de melhor espetáculo estrangeiro no Prix de la Critique de 2018 (FR) e o prémio de autora de “espetáculo vivo” da SACD (BE). Arctique, a segunda parte desta trilogia, foi apresentada na 72ª edição do Festival de Avignon. A meio-caminho entre o teatro, o cinema e a música, este espetáculo é um thriller que tem como pano de fundo o aquecimento global. Kingdom, a última parte da trilogia, estreou no Festival de Avignon em julho de 2021. Anne-Cécile Vandalem também trabalha no estrangeiro, nomeadamente na Schaubühne de Berlim (AL), onde criou Die Anderen (2019). Em 2024, Anne-Cécile iniciou um novo ciclo de criações, Des mondes hantés, de onde sairão os próximos espetáculos, La Fête e Tremblements. Anne-Cécile Vandalem está também a trabalhar na adaptação de uma das suas peças para o cinema.


A École des Maîtres é um dos mais importantes projetos internacionais de formação teatral avançada, idealizado por Franco Quadri em 1990. Desde 2019, é coorganizado em Portugal pelo Teatro Académico de Gil Vicente e pelo Teatro Nacional D. Maria II. A edição deste ano decorre com o apoio de quatro países europeus – Bélgica, Itália, França e Portugal – e tem como objetivo relacionar jovens artistas europeus (com idades entre os 24 e os 35 anos), oriundos de escolas de teatro europeias e com experiência profissional, com encenadores de renome internacional. A edição de 2024 da École des Maîtres é dirigida pela atriz, autora e encenadora belga Anne-Cécile Vandalem e o workshop que dá início ao projeto intitula-se Assombrações, rituais, legados e transmissões.

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